O que é comunicação não violenta?

Por | Administrativo, Geral, Secretariado

O que é comunicação não violenta? - Foto: BS MAS

A maior parte dos conflitos que temos no nosso dia a dia ocorrem pela forma como expomos nossas ideias. Foi a partir disso que o psicólogo Marshall Rosenberg desenvolveu o conceito de comunicação não violenta (CNV).

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Segundo o autor, essa técnica pode estimular a compaixão e a empatia. Em um ambiente que estimule a competitividade, a dominação e a agressividade, tendemos a nos comportar de modo violento, mesmo que esta violência seja velada. Mas, em um ambiente acolhedor e cooperativo, tendemos a agir com mais generosidade.

Usar o princípio da comunicação não violenta por vezes não é uma tarefa fácil, mas adotar esse método no cotidiano é fundamental para o seu desenvolvimento. Portanto, confira abaixo tudo o que você precisa saber sobre comunicação não violenta.

O que é comunicação não violenta?

O que é comunicação não violenta? - Foto: ICM MAS
O que é comunicação não violenta? – Foto: ICM MAS

A comunicação não violenta (CNV) engloba habilidades de comunicação utilizadas para fortalecer as conexões humanas com base na compaixão e na empatia. A estratégia é ampla, aplicada na comunicação verbal (escrita ou falada) e não verbal (gestos, expressões faciais ou corporais, imagens ou códigos). 

Na prática, a comunicação não violenta ocorre quando o emissor reformula o que fala e ouve. Ou seja, antes de responder inconsciente e imediatamente, ele ouve com atenção e reflete sobre o sentido e o desejo manifestado por alguém.  Assim, ao invés de responder intempestivamente, o indivíduo procura se expressar com clareza, empatia, de forma respeitosa. 

Nesse sentido, exercitar a CNV permite compreender o mundo ao redor sob a ótica da outra pessoa. Dessa maneira, ele consegue compreender as razões por trás de suas atitudes. Inclusive, a essência da comunicação não violenta está em 4 pilares, os quais veremos ao longo do artigo. São esses fatores que norteiam a aplicação da CNV e não necessariamente as palavras trocadas durante o diálogo com outras pessoas. 

Mas é fundamental destacar que a CNV defende que o objetivo de toda forma de comunicação humana é demonstrar necessidades universais. Sendo assim, ela representa um modo de se expressar cujas prioridades são o fortalecimento dos laços e a manutenção de bons relacionamentos. 

Como surgiu a comunicação não violenta (CNV)?

O que é comunicação não violenta? - Foto: NP MAS
O que é comunicação não violenta? – Foto: NP MAS

O norte-americano Marshall Rosenberg (1934-2015), psicólogo e autor da abordagem CNV, desenvolveu a habilidade da Comunicação não violenta inspirado nas ações de grandes líderes como Martin Luther King Jr e Gandhi, ou seja, observando a utilização da resistência não violenta como prática de transformação daquelas realidades violentas.

A sua preocupação com a postura defensiva e as reações por meio da violência começaram ainda na sua infância, em 1943, quando presenciou experiências negativas na escola por ser judeu e pelo contexto social da época com os conflitos raciais nos EUA.

Já na década de 1960, Marshall dedicou a carreira acadêmica ao estudo do comportamento humano violento em diversos contextos sociais. Assim, o objetivo dele com isso era o de construir uma cultura da paz e um mundo mais justo. Desde então, a CNV vem contribuindo e sendo utilizada nas organizações não-governamentais, mediação de conflitos, justiça restaurativa, escolas, empresas, etc. Hoje, a CNV está presente em mais de 65 países, colaborando para o desenvolvimento e fortalecimento da consciência humana.

Comunicação não violenta e a escuta ativa

O que é comunicação não violenta? - Foto: BS MAS
O que é comunicação não violenta? – Foto: BS MAS

A técnica da escuta ativa se faz imprescindível para a aplicação da comunicação não violenta, pois ela tem o poder de gerar o sentimento de atenção necessário para que ambas as partes sintam-se acolhidas e engajadas em ouvir e falar de modo aberto, construindo assim uma profunda percepção de respeito pela história do outro, o que na prática, se traduz em conexões reais e empatia. 

Como se conectar com pessoas, se assumimos sempre uma postura fechada ou defensiva, sem levar em consideração a fala do outro? Por esse motivo, a escuta ativa tem como fundamento o real desejo de parar e verdadeiramente ouvir o que está sendo dito, sem implicações de juízo. É assumir uma postura ativa, aberta para o diálogo. 

Por fim, é exatamente entre esse elo “ouvir e falar” que a comunicação não violenta pode ser alcançada.

Os quatro componentes da comunicação não violenta

O que é comunicação não violenta? - Foto: DP MAS
O que é comunicação não violenta? – Foto: DP MAS

Para que a comunicação não violenta ocorra, Rosenberg explica que é preciso os praticantes se concentrem em quatro componentes, que devem ser expressados de forma clara:

1. Pilar da consciência — Observação

Em primeiro lugar, é necessário observar o que realmente está acontecendo em determinada situação. O psicólogo sugere questionar se a mensagem que está sendo recebida, seja por meio de fala ou de ações, tem algo a acrescentar de forma positiva. Assim, o segredo é fazer essa observação sem criar um juízo de valor, apenas compreender o que se gosta e o que não no que está acontecendo e no que o outro faz.

2. Pilar da linguagem — Sentimentos

Depois, é preciso entender qual sentimento a situação desperta depois da observação. É importante nomear o que se sente, por exemplo, mágoa, medo, felicidade, raiva e entre outros. Além disso, o psicólogo ainda afirma que é importante se permitir ser vulnerável para resolver conflitos e saber a diferença entre o que se sente e o que se pensa ou interpreta.

3. Pilar da comunicação — Necessidades 

A partir da compreensão de qual sentimento foi despertado, é preciso reconhecer quais necessidades estão ligadas a ele. Rosenberg ressalta que quando alguém expressa as suas necessidades, há uma possibilidade maior de que elas sejam atendidas e que a consciência desses três componentes vem de uma análise pessoal clara e honesta.

4. Pilar da influência — Pedido

Por meio de uma solicitação específica, ligada a ações concretas, é possível deixar claro o que se quer da outra pessoa. O especialista recomenda usar uma linguagem positiva, em forma de afirmação, para fazer o pedido. Evite frases abstratas, vagas ou ambíguas.

Qual o objetivo da comunicação não violenta?

O que é comunicação não violenta? - Foto: MO MAS
O que é comunicação não violenta? – Foto: MO MAS

A CNV tem uma série de finalidades e aplicações, como você já pode supor com base no que descrevemos até aqui. Portanto, para utilizar esse método, basta adaptá-lo ao contexto desejado.

Veja, a seguir, uma lista com os principais objetivos da comunicação não violenta:

  • Abertura ao diálogo;
  • Promoção da empatia;
  • Mediação de conflitos;
  • Gestão otimizada de equipes;
  • Resolução pacífica de conflitos;
  • Construção de ambientes acolhedores;
  • Redução de agressões físicas e verbais;
  • Manutenção de relacionamentos saudáveis;
  • Fortalecimento de uma cultura de parceria e trabalho em equipe;
  • Auxílio em tratamentos de recuperação após traumas e dependência;
  • Humanização no atendimento por profissionais de saúde e outras áreas.

Quando usar a comunicação não violenta?

O que é comunicação não violenta? – Foto: TM MAS

Esse modo de usar a linguagem é aproveitado em todos os níveis de comunicação, desde os relacionamentos íntimos até o convívio com familiares e pessoas da escola / faculdade, grupos de empresas, reuniões, negociações e qualquer outro tipo de situação sujeita a conflitos.

Portanto, não se trata de saber quando usar a comunicação não violenta, mas de integrá-la aos seus valores de vida e fazer dela uma forma saudável de se relacionar consigo e com os outros.

A necessidade de adotar os princípios da comunicação não violenta, por outro lado, pode ficar mais evidente a partir de diferentes caminhos.

Algumas pessoas lidam com uma rotina de reuniões desgastantes, discussões, trânsito e prazos que acaba exigindo muito da saúde física e mental. Nesse caso, o âmbito profissional é o principal alerta para a importância de usar a comunicação não violenta.

Outras já precisam lidar com maiores problemas ligados ao relacionamento no âmbito escolar ou no convívio com familiares. As vias de acesso ao reconhecimento do problema podem ser distintas, mas as vantagens abarcam todos os espectros de convivência social.

No caso da escola, é importante saber que um psicólogo na educação pode ajudar a criança se relacionar melhor com os colegas.

Como praticar a comunicação não violenta?

O que é comunicação não violenta? – Foto: AB MAS

Algumas atitudes simples, baseadas nos 4 princípios definidos por Marshall Rosenberg, podem ser úteis ao nosso dia a dia. Confira:

Interaja com comentários descritivos

Uma ótima maneira de demonstrarmos como nos sentimos em relação às coisas, situações ou pessoas é evitar comentários taxativos, como julgamentos reduzidos a adjetivos (“egoísta”, “simpática”, “insensível”).

Vale a pena optar por descrever como você se sente. Assim, as pessoas conseguem saber verdadeiramente o que podem fazer para melhorar o relacionamento.

Por exemplo, quando é necessário explicar a uma criança que ela insultou você ou alguém com suas palavras, mesmo que sem querer, descreva os impactos que foram causados e as consequências do ato, em vez de reduzir o sermão a “você está errada” ou “já para o quarto!”.

Desencoraje a comparação

Sabemos que todos nós tendemos a nos comparar uns com os outros. E, no ambiente de trabalho, a comparação pode ser constante e, muitas vezes, encorajada pela liderança.

No entanto, o que não sabemos é o quanto nos comparar pode influenciar a nossa comunicação com o outro. Quando olhamos de forma comparativa, acabamos julgando o outro e esquecemos que possuímos vivências e trajetórias diferentes.

Marshall B. Rosenberg explica em sua obra que, para nós, é difícil não “julgar o livro pela capa”, uma vez que comparar e julgar está em nossa natureza.

Quando julgamos o outro a partir de nossas experiências, sem considerá-lo um ser humano único e multifacetado, tendemos a expressar preconceitos em nossa fala que nos impedem de agir com empatia em relação ao outro.

Um bom exercício para perceber se estamos julgando o outro baseado em nossas experiências é se atentar a frases como: “tal pessoa é preguiçosa”; “eles são preconceituosos”; “o seu problema é ser puxa-saco demais” e etc.

Eliminar esses comportamentos é um passo essencial para praticar a comunicação não violenta no trabalho.

Acesse os próprios sentimentos

Escute os seus sentimentos e as suas necessidades que foram aflorados diante de uma situação de conflito. Treine a prática de expor essas percepções e pedir para que a outra pessoa entenda.

Não acessar os próprios sentimentos abre a oportunidade de colocar a culpa sobre a outra pessoa. Isso cria uma barreira que não permite diálogos e que apenas alimenta a situação de conflito.

Pratique a empatia

Precisamos exercer a empatia para nos comunicarmos de maneira não violenta. Mas, para desenvolvermos a habilidade de sermos empáticos, devemos nos livrar de nossas ideias preconcebidas e de nossos julgamentos.

Quando tratamos o outro com empatia, somos capazes de observar as suas necessidades e seus sentimentos, independente das palavras que são usadas.

Segundo o autor, quando oferecemos empatia às pessoas evitamos uma possível resposta desagradável.

Quando ouvimos com empatia, podemos nos expressar de forma mais positiva para não ferir os sentimentos dos outros e aprimoramos a habilidade de ouvir sem tornar o que está sendo dito como algo pessoal.

Dessa forma, pratique se colocar no lugar do outro para compreender seus motivos, abuse da empatia na hora de falar e de ouvir, e trate seus colegas da forma que gostaria de ser tratado.

Faça pedidos específicos e sinceros

Forçar alguém a fazer algo que você quer pode criar uma falsa sensação de “vitória” no final do argumento, e isso tem o seu preço. A pessoa passa a se submeter para satisfazer outras vontades e se sente cada vez mais afastada emocionalmente.

Desse modo, o risco de o mesmo processo acontecer novamente, agora vindo da outra pessoa, é maior e vai impossibilitando a criação de uma conexão genuína e desgastando a relação.

Pedidos específicos, por outro lado, são baseados nas nossas necessidades e têm maiores chances de ser atendidos sem rancor ou ressentimentos. É importante que eles foquem no que você quer, e não naquilo que você não quer.

Por exemplo, “Não fale alto” pode ser substituído por “Você pode falar um pouco mais baixo?”.

Delegue as tarefas

Fazer uma solicitação pode ser uma situação complicada. Não sabemos determinar o que a outra pessoa está pensando ou sentindo em relação ao nosso pedido.

Existem algumas estratégias que podemos adotar para que o diálogo na hora de delegar uma tarefa seja o mais confortável possível.

Acima de tudo, independente se você está em uma posição de poder ou não, utilize sempre uma linguagem positiva e clara ao fazer um pedido a alguém. Dessa forma, você não precisará presumir se o outro compreendeu a solicitação ou não.

Quando fazemos nossos pedidos como exigências, usamos uma linguagem negativa que bloqueia a compaixão no ouvinte.

Ainda que a exigência parta de alguém que está em posição de autoridade, esse tipo de solicitação soa para o ouvinte como uma ameaça que vai gerar uma punição caso não seja cumprida.

FAQ – Comunicação não violenta

O que é a comunicação não violenta?

Comunicação não violenta é um modo de se expressar que prioriza o fortalecimento de laços e a continuidade de bons relacionamentos. Assim, ela acredita que toda forma de comunicação humana tem por objetivo demonstrar necessidades universais.

Como surgiu a comunicação não violenta?

O norte-americano Marshall Rosenberg (1934-2015), psicólogo e autor da abordagem CNV, desenvolveu a habilidade da Comunicação não violenta inspirado nas ações de grandes líderes como Martin Luther King Jr e Gandhi, ou seja, observando a utilização da resistência não violenta como prática de transformação daquelas realidades violentas.

Quais são os 4 pilares da comunicação não violenta?

Existem 4 pilares da comunicação não violenta. São eles:

  1. Pilar da consciência — Observação;
  2. Pilar da linguagem — Sentimentos;
  3. Pilar da comunicação — Necessidades;
  4. Pilar da influência — Pedido.